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Em queda, preço da arroba do boi volta a ficar abaixo de R$ 200

on seg, 04/09/2023 - 22:29
segunda-feira, 4 Setembro, 2023 - 22:15

Pela primeira vez desde maio de 2020, o boi gordo está sendo negociado por menos de R$ 200 por arroba em Campinas (SP). O forte recuo dos preços nos últimos meses, em decorrência principalmente da virada do ciclo pecuário, deixou a maioria dos pecuaristas brasileiros com um pé atrás sobre a ideia de investir. Em efeito cascata, a indústria de saúde e nutrição animal enfrenta um cenário mais difícil para manter as vendas, mas especialistas afirmam que é importante continuar investindo de olho na fase de alta daqui a alguns anos.

Arroba do boi em queda deve afetar resultado de empresas - Imagem: Ernesto de Souza/Ed. Globo

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Esalq/USP, a arroba do boi caiu custava R$ 199,80 na quinta-feira (31/8), uma queda de 18% no mês. Em relação ao mesmo dia de 2022, a baixa é de 35%.

“É até difícil dizer se é o fundo do poço, porque acho que ainda tem espaço para cair um pouco mais”, afirmou o pecuarista Rogério Assis, de Santa Vitória do Palmar, no Rio Grande do Sul. “Mas é cíclico, e a gente não pode deixar de investir. Quem para no tempo, fica para trás”. Assis abate cerca de 800 animais por ano. O corte não é a principal fonte de receita para o pecuarista; ele é um conhecido produtor de genética angus e mantém entre 200 e 250 matrizes com esse foco.

“Fizemos reuniões na propriedade para decidir o que faríamos este ano. É uma decisão difícil, em muitos lugares do país a conta do pecuarista não fecha. Então, é pisar no freio, mas não parar”, disse.

Maior queda desde 2006

De acordo com Hyberville Neto, da HN Agro, o preço do boi registrou a maior queda em relação ao pico de preços anterior (em novembro de 2020) desde 2006. “Acontece que a fase de alta acabou sendo influenciada também pelo aumento das compras da China, a alta dos preços também foi amplificada”, explicou.

Os chineses começaram a comprar carne bovina brasileira em maior quantidade depois que a peste suína africana devastou o plantel de porcos do país. No entanto, a produção de carne suína no gigante asiático se recuperou nesse ínterim. “Agora o mercado está se acomodando, e a oferta está grande”, disse Hyberville Neto.

Existe uma lógica para produtores como Rodrigo Assis: quando o ciclo pecuário virar daqui a poucos anos, refletindo o enxugamento da oferta, o produtor precisará ter animais para vender e aproveitar o bom momento do mercado. “O boi produzido hoje vai nascer em 2024 e será vendido em 2025. Sei que é esquisito falar isso, mas é preciso acelerar a produção de bezerros, pensando na fase de alta”, afirmou Hyberville Neto.

A indústria de nutrição e saúde animal sentiu a retração do pecuarista brasileiro. Mesmo entre os grandes nomes do mercado, que devem crescer este ano, a avaliação é que está sendo necessário gastar mais energia para convencer o produtor a investir.

“A gente já esperava um ano difícil, pelo que vimos no fim do ano passado. Mas, com certeza, foi pior que o esperado. Muitos fatores difíceis de a gente prever”, diz Rodrigo Ferreira, gerente de marketing da divisão de negócios de ruminantes da Elanco Saúde Animal.

Auto embargo

O auto embargo das exportações de carne bovina à China entre fevereiro e março também prejudicou a tomada de decisão de produtores, avaliou Túlio Ramalho, diretor de vendas para ruminantes no Cone Sul da DSM-firmenich, que é líder em nutrição de bovinos no país. “O mercado do boi está a um ano perdendo preço. Geralmente, quando o ciclo vira, costuma-se achar o piso logo”, disse Ramalho.

No entanto, ele observa sinais de uma melhora na demanda de produtos de nutrição, puxada principalmente pelo boi padrão China. “O mercado chinês demanda um animal de até 30 meses e bem acabado, é muito difícil entregar isso a pasto. A gente acredita que a necessidade dos frigoríficos por esses animais possibilitará uma retomada de preços no curto ou médio prazo”, afirmou.

Na DSM-Firmenich, os produtos premium despontam com crescimento de dois dígitos, com o produtor preferindo concentrar seus investimentos em produtos que vão agregar mais resultado, explicou Túlio Ramalho. “O pecuarista está fazendo conta e buscando mais produtividade”, disse.

*O jornalista viajou a convite da Elanco


Fonte: Globo Rural