Em tempos de corte de gastos, presidente da Câmara tem projeto bilionário para dar mais conforto a deputados

Em tempos de medidas de economia e corte de gastos, o presidente da Câmara Federal quer construir quatro prédios no Congresso, com um plenário novo e até shopping center. A explicação? É para dar mais conforto para deputados e assessores. O projeto ainda nem está pronto, mas já supera R$ 1 bilhão para apenas um prédio.

O que todo mundo quer saber: de onde vai sair o dinheiro? É o que os técnicos da Câmara responsáveis pelo orçamento da Câmara tentam responder. Existe um empenho do presidente da Câmara de fazer uma parceria público-privada, para que empresas particulares entrem com o dinheiro e possam explorar o prédio, com restaurantes, estacionamento pago. Se esse plano não der certo, Eduardo Cunha disse que tem dinheiro público em caixa para tocar a obra.

No final da Esplanada dos Ministérios, o prédio do Congresso é um dos símbolos mais emblemáticos de Brasília. É também um espaço em constante transformação.

A Câmara, por exemplo, que nasceu com um anexo, em cinco décadas, ganhou mais três, fora os puxadinhos lá dentro. Tem sala apertada embaixo de rampa, lanchonete no corredor, e a adaptação mais famosa: o painel do artista Athos Bulcão, colocado no lugar onde antes havia janelas e vista para a área externa. Atrás dele, surgiram gabinetes para abrigar lideranças de partidos. A última mudança: para dar lugar a mais um partido, o salão de beleza foi fechado.

Agora, a Câmara deve ganhar quatro prédios novos, que serão construídos na área ao lado de um anexo usado hoje como estacionamento. Já tem projeto e tudo. Um dos prédios vai ter estacionamento subterrâneo para os deputados, outro terá vários gabinetes, um plenário com 675 lugares, uma praça e um prédio comercial, uma espécie de shopping center.

O primeiro secretário da Câmara, deputado Beto Mansur, diz que a obra é importante porque o número de deputados e de assessores aumentou desde a construção do último anexo, em 1980. O custo de tudo isso? “É mais de R$ 1 bilhão. Está tudo muito apertado. Proposta para isso a gente tem, em cima desse projeto e nós vamos dar condições para que os parlamentares estejam bem atendidos. As pessoas possam vir para discutir os temas nacionais dentro das comissões, e que a gente possa dar uma melhor infraestrutura para todos que nos visitam”, diz.

A construção de um novo anexo é discutida há muitos anos na Câmara, e foi promessa de campanha do novo presidente, deputado Eduardo Cunha. Ele pretende fazer a obra em parceria com a iniciativa privada. A empresa que entrar no negócio vai ganhar o direito de explorar o prédio comercial, que deve ter escritórios, salas e um estacionamento pago com quatro mil vagas.

A proposta de fazer parcerias público-privadas no Congresso foi vetada pela presidente Dilma Rousseff, mas o deputado Eduardo Cunha diz que já acertou tudo com o ministro do Planejamento e vai fazer a primeira chamada pública para saber se há empresas interessadas na semana que vem.

Segundo o presidente da Câmara, além de criar novas áreas, é preciso reformar os prédios que têm problemas de estrutura. Ele afirma que, se não houver uma empresa interessada na parceria, tem dinheiro em caixa reservado para tocar boa parte da obra e que pode levantar mais recursos. “Isso aqui é uma cidade, e tem que ser tratada como uma cidade. Com condições de oferecer não só todos os serviços, mas ao mesmo oferecer as condições de trabalho para o parlamentar. Se nós não modernizarmos isso, o custo acaba ficando muito mais caro. A modernização implica, a médio e longo prazo, uma racionalização do custo”, afirma.

O presidente da ONG Contas Abertas diz que a Câmara deveria reduzir o número de funcionários. Hoje, cada deputado pode ter até 25 assessores. “A Câmara funcionaria da mesma forma se tivéssemos a metade dos funcionários, ou talvez um terço desses funcionários. Nesse momento em que o país passa por dificuldades, o razoável seria você diminuir a quantidade de funcionários e não aumentar os prédios para ter ainda mais espaço para esses funcionários, a maioria deles ociosos e nos estados como cabos eleitorais”, afirma Gil Castelo Branco.

O terreno da Câmara onde vai ser construído o novo prédio é bem grande, e por isso existem outros estudos preliminares em andamento para fazer mais prédios no terreno.

G1/foto: reprodução Globo