Skip directly to content

Gravações revelam que prefeito sabia de esquema montado por vereadores

on ter, 14/10/2014 - 07:57
terça-feira, 14 Outubro, 2014 - 08:00

Leandro Peres de Mattos, o Léo Mattos (PV), prefeito de Naviraí, cidade a 366 quilômetros de Campo Grande, é citado em vários trechos das conversas do presidente da Câmara Cícero dos Santos, o Cicinho do PT, que foram gravadas pela Polícia Federal com autorização da Justiça. Relatório da PF com a transcrição dos principais trechos gravados através de escutas durante a Operação Atenas, ao qual o Campo Grande News teve acesso, demonstra que o prefeito sabia do esquema montado na Câmara e que estaria pagando dinheiro ao grupo em troca de apoio no Legislativo e para aprovação de projetos de lei. Cinco vereadores estão presos, entre eles Cicinho do PT.

As conversas de Cicinho do PT com outros vereadores, com assessores e outras pessoas dão a entender também que o grupo chegou a ameaçar cassar o mandato do prefeito para pressioná-lo a pagar propina. Numa conversa com uma pessoa citada pela PF apenas como “Célio”, o presidente da Câmara fala dos planos: “essa semana os caras armaram tudo para cassar o Léo. Chegaram a me propor aqui pro Jair assumir, acredita nisso?”. Célio responde: “Sim, eu falei para ele: Léo, você precisa demais da Câmara, do Cicinho”. O Jair citado é o vice-prefeito Jair Alves dos Santos, o Jair do PT.

“Pagar o tempo extra, tem que pagar. Só que o Léo ficou refém dos caras. O Léo agora vai pagar. Toda vez que o Léo falar vão ameaçar. Derrotaram um projeto do Léo aqui. É o que eu sempre falo para você: seja o cara humilde que você é não ‘bate’ com o Léo. Uma hora o Léo vai botar em você como fez com o Zé. Tirou o pão da boca. Ninguém aqui é virgem. O Léo fez tudo isso”, afirma Cícero dos Santos.

Em outra gravação da Polícia Federal, Cícero conversa com um homem chamado “Zé” sobre a gerente de Habitação Popular Vera Zezak Braga. Com a experiência de quem já foi chefe desse setor na cidade, Cícero dos Santos afirma que Vera “não aguenta a pressão” se fosse chamada a depor no Ministério Público, “sugerindo indício de ilicitude”, segundo o relatório da PF.

“Ali ela não aguenta a pressão. Se o promotor chamar ela, ela não aguenta. O Léo que se cuida. Se eu fosse o Léo eu convencia ela: ‘Vera eu tenho um lugar mais estratégico para você’. Porque se os caras vierem querendo saber como é que faz esse cadastro aí? O prefeito que mandou?”. Na quarta-feira passada, Vera foi uma das 28 pessoas conduzidas pelos policiais à delegacia da PF para prestar depoimento e depois foi liberada.

Trecho de transcrição de escutas da Polícia Federal em investigação sobre esquema que envolve vereadores. (Foto: Reprodução)Trecho de transcrição de escutas da Polícia Federal em investigação sobre esquema que envolve vereadores. (Foto: Reprodução)

Detalhes - Em conversa com o vereador e Carlos Alberto Sanches (SDD), o Carlão, Cicinho do PT conta que o prefeito Léo Mattos reclamou para ele da vereadora Solange Melo (PROS), também presa na Operação Atenas: “O Léo mesmo falou: ‘Ô Cicinho eu não tô conseguindo viver. E te mais: eu não vou com o Léo valorizar ninguém não. Eu quero ganhar meu dinheiro. O Léo não tem jeito, não muda nunca. Tentei ainda ontem salvar o cara, mas não adianta”.

Na mesma conversa, Cicinho fala para Carlão sobre dinheiro: “eu tratei meu negócio com o Léo. Vai entrar dez paus para você e dez pro Marcus Douglas. Eu já tratei com o Léo”. Marcus Douglas Miranda (PMN) é outro vereador de Naviraí que está preso.

No dia que tiveram essa conversa, o presidente da Câmara e Carlão estavam com a relação abalada, por causa de discurso feito pelo segundo contra projeto que Cicinho apresentou em plenário. Após o diálogo, os dois se acertaram: “eu tô trabalhando o dia inteiro com a mente para poder produzir matéria aqui, pra nós ganhar aqui, ganhar todo mundo”.

Ainda sobre Solange Melo, Cícero dos Santos diz: “eu nunca vou trazer a Solange para o esquema, pode escrever... Eu nunca vou chamar a Solange de volta, eu nunca vou fazer, nunca vou fazer isso, jamais, eu não confio nela”.

Procurado pelo Campo Grande News, o prefeito Léo Mattos disse desconhecer o esquema montado pelos vereadores e negou fazer pagamento em troca da aprovação de projetos de lei. "Desconheço isso. Vocês leram errado, estão equivocados. Nesse suposto esquema o Executivo figura como vítima. Não fomos chamados a nada, para não ter respingado nada no Executivo então não fizemos nada. A Justiça vai julgar. Continuamos trabalhando da mesma forma. Se formos chamados estaremos lá para falar da nossa parte, entendemos o que aconteceu, mas agora nem posso falar nada sobre isso".


Campo Grande News