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Artigo: Encontro - Família Bomfim

on sex, 26/09/2014 - 07:12
sexta-feira, 26 Setembro, 2014 - 07:00

Descendentes de Francisco José Bomfim e Arcidina Serrou Bomfim

 O grande projeto de Deus para que o ser humano pudesse viver em comunhão com os seus semelhantes, Ele o chamou de família. Esta, por sua vez, que apesar das influências que a modernidade impõe sobre os seus valores é, ainda, o porto seguro para todos aqueles que almejam pela qualidade de vida em meio às vivências circunstanciais, sejam elas para a alegria, tristeza, reflexão ou esperança.

Em sua nova configuração nos dias atuais, conceber a família valendo-se do modelo clássico revelado nas sagradas escrituras tornou-se algo desafiador e, muitas vezes, alvo de metáforas impróprias que ofendem a consciência daqueles que prosseguem acreditando no desejo de obter aquela tão esperada satisfação de sentir-se participante de uma instituição na qual pode-se encontrar respostas, bem como o primeiro tratamento psicológico para os conflitos de existência.

Perante esta breve análise, o pretérito que nos transporta ao período em que fomos crianças vem à tona de maneira agradável e revestido de lembranças perenes que foram fundamentais para a sólida formação de uma descendência que teve, em sua origem genealógica, a escolha da opção de obedecer os princípios estabelecidos nos preceitos eternos. Se o poeta declarou que “a vida precisa ter sentido” não poderíamos deixar de reconhecer o legado do Sr. Francisco José Bomfim (o vô Chico, o seu Chico) e a Sra. Arcidina Serrou Bomfim (a vovó Arcidina) que, por intermédio do sentido de suas vidas, promoveram significados relevantes no caráter de seus filhos.

Sim, às margens de dois pequenos riachos, o Muquem e o Brilhante, localizado aproximadamente a dez quilômetros do centro da cidade de Camapuã-MS, o vovô e a vovó testemunhavam o seu modo de viver quando, naqueles dias, vivíamos distantes de qualquer fragmento de impessoalidade capaz de ameaçar a unidade que havia nos encontros pascais, nas férias de julho e nos feriados prolongados. Para delírio do nosso momento infantojuvenil, contávamos os dias para a chegada do natal e, sem ensaio, mas com doce regozijo e entusiasmo, os olhares uns dos outros, familiares e amigos, aguardavam ao redor da grande mesa a contagem regressiva para dizer: “Feliz Ano Novo!”

E aos domingos? Sem atrasar um só segundo o vô Chico pegava a sua Bíblia, entregava a chave da C-10 para o um dos genros (lembro-me do tio Sandoval no comando do veículo) e lá em cima, em pé na carroceria de madeira, e sem medo de uma blitz, sentíamos o frescor da brisa matinal, pois já se manifestava em nossos corações a melodia escrita no livro de Salmos, no capítulo 122, no versículo primeiro, que até hoje não deixou de ser entoado na Igreja Batista de Camapuã, o qual diz: “Alegrei-me quando me disseram: vamos à casa do Senhor”.

Em caravana chegávamos à comunidade protestante e, em silêncio reverente no interior do templo, ficávamos como quem sonha quando ouvíamos a oração do vovô, referência de intimidade, entrega e confiança absoluta no Autor e Consumador de sua fé. A poesia que fluía da introspecção de sua prece elevava-se, por transcendência, com o objetivo de romper as barreiras físicas e espirituais desprovidas de forças suficientes para impedir a bênção do Senhor, mesmo que algumas palavras fossem repetidas.

Se a linguagem do Facebook popularizou o termo “curtir”, os primos não escondiam a satisfação por estarem tão próximos ao vovô Chico e à vovó Arcidina e deles, principalmente ao cair da noite lá na fazenda, nos aproximávamos para obter a segurança de suas presenças porque a nossa imaginação, involuntariamente, nos conduzia àquele pequeno medo que tínhamos do escuro.

O José Oscar, o primogênito dos primos, já tinha as suas funções bem definidas pelos campos da fazenda. Uma delas era a de buscar a tropa e prepará-la para conduzir o gado até o curral a fim apartá-los e, a partir da consequência desse labor, tivéssemos o leite fresquinho garantido para o outro dia, pois querendo ou não, os nossos corações batiam mais fortes (de orgulho é claro) ao vê-lo dominar de forma hábil, elegante e segura o corcel negro por entre os arbustos dos montes nas proximidades do mangueiro.

É com tais recordações que ainda sentimos a possibilidade de ousar no contexto das relações familiares. Se há algo imprescindível do qual devemos, como família, nos ocupar na contemporaneidade desses dias, é da boa vontade. Em contrapartida, considerando que há muita gente bem intencionada visando a prática do bem e utilizando em seus discursos individuais um vasto repertório de expressões genéricas, onde nelas se lê o monossílabo “bem”, convenhamos que as mesmas julgam-se cansadas, desistentes e crentes de que o “bem” plantado já foi sepultado.

No que crer, então? De volta ao pretérito de nossas vidas e admitindo que “o futuro é o passado em construção” nos atrevemos a seguir como escrito foi por Manuel Bandeira nas primeiras linhas de seu lavor poético, onde lemos: “Assim eu quereria...”. Portanto, em uníssono, unidos pela gratidão e por amor àqueles que dedicaram as suas vidas a nos ensinar, “simulemos” um querer fazer como nos foi feito, todavia, por licença poética, falo exatamente do que estamos fazendo agora, ou seja, vivendo esse encontro.

Moisés Mancebo Manhães Junior