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Felino ameaçado mundialmente de extinção é registrado em MS

on qui, 30/07/2020 - 07:34
quinta-feira, 30 Julho, 2020 - 07:30

O número de mamíferos que vivem no Parque Natural Municipal Templo dos Pilares, em Alcinópolis (MS), aumentou e o grupo de 14 espécies locais ganhou um integrante raro e muito ameaçado: um gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) foi flagrado e identificado por pesquisadores no dia 12 deste mês.

Felino foi registrado no Parque Natural Municipal Templo dos Pilares (MS) — Foto: Bruna Barbosa/Arquivo Pessoal

A raridade e a aparência com outros felinos confundiram a bióloga Bruna Barbosa, responsável pela instalação das armadilhas fotográficas na região, que inicialmente pensou ser uma jaguatirica. Foi depois de publicar a foto no site Biofaces que ela descobriu a real identidade do animal. “Sabíamos que tinha muita coisa para descobrir sobre espécies que ocorrem no Parque, mas não imaginei que encontraríamos um animal tão raro como esse. É gratificante saber que nossas Unidades de Conservação estão cumprindo com o papel de proteger espécies tão importantes para o Cerrado”, diz.

O monitoramento e as ações de conservação são mesmo muito necessárias para a manutenção dos ecossistemas e, principalmente, para proteger o gato-do-mato-pequeno, o único carnívoro do Brasil que está na categoria ‘Em Perigo’ da lista de espécies brasileiras ameaçadas de extinção. “A nível mundial ele também é considerado ameaçado, na categoria Vulnerável. Vale ressaltar que o L. tigrinus e sua espécie ‘irmã’, Leopardus guttulus são os únicos dentre todos os felinos do Brasil que estão ameaçados globalmente, de acordo com a IUCN”, aponta o pesquisador da Universidade Estadual do Maranhão especialista em felinos, Tadeu Gomes de Oliveira, que explica a diferença entre as duas espécies ameaçadas.

Esse pode ser o primeiro registro da espécie, após 2013, feito por armadilhas fotográficas — Foto: Bruna Barbosa/Arquivo Pessoal

“Até 2013 elas eram consideradas uma só, chamada de Leopardus tigrinus. Só depois passaram a ser espécies distintas. Em termos de registros atuais comprovados do gato-do-mato-pequeno, acredito que esse seja o primeiro flagrante feito por armadilhas fotográficas”, ressalta.

Ainda há muito o que ser estudado sobre os felinos, como por exemplo, os limites de distribuição de cada um. “Sabemos que o L. tigrinus vive em uma faixa da região Norte, no Nordeste e no Brasil central, até o Norte do Mato Grosso do Sul”, detalha Tadeu, que atualmente se dedica à avaliação das áreas de ocorrência das espécies.

"Muito mais importante do que o registro é o fato do Brasil deter a área de conservação considerada a mais importante, em nível mundial, para a espécie"

— Tadeu Gomes de Oliveira, pesquisador da Universidade Estadual do Maranhão

O gato-do-mato-pequeno pode ser confundido com a jaguatirica por algumas características parecidas — Foto: Arte/TG

Identificação

De acordo com o pesquisador, é possível confundir o Leopardus tigrinus com a ‘espécie irmã’, embora apresentem uma série de características diferentes, com o gato-maracajá (Leopardus wiedii) e com a jaguatirica (Leopardus pardalis).

“As rosetas – popularmente chamadas de pintas; tendem a ser pequenas, na maioria das vezes abertas e adensadas, e a coloração de fundo amarelada. As patas são proporcionais ao corpo e a cauda é longa”, destaca.

Foto foi publicada em site que incentiva divulgação científica — Foto: Divulgação Biofaces

A bióloga e supervisora de espécies do Biofaces, Letícia de Moura, explica quais características levou em consideração para identificar a espécie fotografada. “Batendo o olho vi que não era uma jaguatirica, pois apresentava rabo mais grosso e pintas menores e menos abertas que nas jaguatiricas, cuja principal característica na pelagem são as ‘listras’”.

Para a especialista, práticas de ciência cidadã, como a publicação de fotografias e flagrantes, são extremamente importantes para a conservação da natureza e desenvolvimento da ciência. “O site estimula as pessoas a conhecerem um pouco mais da incrível diversidade de vida que há nesse Planeta. É possível compartilhar registros de fotos, vídeos, sons, trabalhos em pdf, desenhos científicos, evidências e listas de avistamentos de animais de qualquer lugar do mundo, integrando pesquisadores e leigos na arte da observação de vida animal selvagem”, destaca.


Fonte: G1/SP