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Operário-MT perde patrocínio da Sicredi após anunciar contratação do goleiro Bruno

on ter, 21/01/2020 - 00:19
terça-feira, 21 Janeiro, 2020 - 00:15

A contratação do goleiro Bruno pelo Operário de Várzea Grande (MT) fez com que a Cooperativa Sicredi anunciasse nesta segunda-feira (20) suspensão do patrocínio ao clube. A chegada de Bruno também causou revolta entre torcedoras do clube e o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso chegou a emitir nota de repúdio.

(Marcelo Rodrigues/EPTV)

Condenado a mais de 20 anos de prisão pelo sequestro, homicídio e ocultação de cadáver da ex-namorada Eliza Samudio, em 2010. Cumprindo pena em semiaberto, ele teve autorização judicial para viver em Mato Grosso e jogar pelo Operário.

O Sicredi diz que o valor do patrocínio é pago à Federação Mato-Grossense de Futebol, que repassa aos times. A assessoria da cooperativa confirmou que houve determinação para a logomarca não ser mais usada nos uniformes do operário.

O supervisor do time, André Xela, confirmou o rompimento ao Uol, mas afirmou que não há intenção em rever a contratação de Bruno.

A data da chegada de Bruno não foi divulgada, mas haverá uma coletiva de apresentação, diz Xela.

A Invicttus, que produz e fornece o material esportivo do time, diz que o contrato é exclusivo para as peças de 2020 e que o acordo deve ser mantido. Nas redes sociais, após pressão, divulgou nota afirmando não ter “poder para contratar jogador A ou B”.

Em nota, o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso, afirmou que Bruno demonstrou “profundo ódio e total desrespeito às mulheres ao tratar de forma cruel e bárbara aquela que seria a mãe do seu filho”. A presidente do órgão, Gláucia Amaral, diz que o grupo é favorável à ressocialização, mas repudia a possibilidade de Bruno voltar a ser um ídolo em um esporte de massa.

Há uma previsão de protesto contra a contratação de Bruno marcada para as 19h desta terça, no portão principal do estádio Dito Souza, em Várzea Grande.

Polêmica na Bahia

No último dia 7, o Fluminense de Feira anunciou que não iria mais contratar o goleiro Bruno. A desistência foi revelada pelo presidente Ewerton Carneiro, o Pastor Tom, em entrevista coletiva, em Feira de Santana.

De acordo com o dirigente, o motivo foi a forte manifestação popular contrária à contratação. “Esses dias foram de muita confusão para mim, para a diretoria, para o Fluminense de Feira, pro povo de Feira, para a minha família. A gente viu pessoas entrando na rede social, uns favoráveis, outros contra, inclusive falei ontem com Bruno, conversei com ele. E eu ouvi ontem também a imprensa de Feira, as pessoas nas ruas, procurei me basear também juridicamente do que poderia trazer negativamente ou positivamente para o Fluminense. No dia de hoje, depois da matéria que foi rodada ontem, repercutiu muito, muito, muito, muito, muito na Bahia, qual é a nossa conclusão quanto a Bruno? Nossa conclusão é que eu entendo que estamos em uma administração nova e não queremos polemizar. Muito pelo contrário. Nós queremos resgatar aquelas pessoas que iam para o estádio para que voltem ao estádio. Essa é a nossa preocupação, de trazer os torcedores de volta para o clube”, justificou.

“Então nesse momento eu entrei em contato com o empresário de Bruno e disse: ‘Ainda que o jurídico me deu um parecer que ele vai chegar com oito a dez dias, eu quero dizer que o Fluminense está desistindo da contratação do mesmo devido à manifestação popular. Foi um apelo da torcida, foi um apelo do povo, então só quem não ouve o povo é porque é maluco”, contou o Pastor Tom.

A matéria a qual o dirigente se refere pela grande repercussão foi na verdade um comentário feito na segunda-feira (6) pela jornalista Jéssica Senra, apresentadora do telejornal Bahia Meio Dia, da TV Bahia, na qual ela condena que Bruno volte a jogar futebol profissionalmente.

O presidente do Touro do Sertão revelou também a existência de um conflito entre seus posicionamentos como dirigente e como pastor. Por este último, ele seria favorável a dar uma chance ao goleiro de 35 anos.

“Eu ouvi a maioria, então nesse exato momento nós estamos desistindo de trazer Bruno para o município de Feira de Santana, respeitando a torcida, respeitando todas aquelas pessoas que falaram do crime hediondo que o mesmo fez. Olha que eu não estou aqui para julgar. A Bíblia é muito clara. Deus, numa parábola, ele fala: quem não tenha pecado que lance a primeira pedra. E todos que estavam ali saíram e se mandaram. Eu, como um pastor evangélico, tenho que lutar para ressocializar as pessoas, para que aquela pessoa venha a ser transformada. Como homem de Deus eu vou continuar fazendo isso, mas o apelo da torcida e da sociedade foi mais importante”, disse.

Posicionamento de Jéssica Senra

A jornalista baiana Jéssica Senra, apresentadora da TV Bahia, se posicionou contra a posssível contratação do goleiro Bruno pelo Fluminense de Feira e deu o que falar na web (assista posicionamento abaixo). Durante o Bahia Meio Dia do dia 6 de janeiro, a jornalista levantou um debate sobre moral e convocou os ouvintes à reflexão. A fala dela foi compartilhada no Instagram e viralizou nas redes sociais, gerando discussão.

“Desejamos e precisamos que pessoas que cometem crimes tenham a possibilidade de refazer suas vidas, mas diante de um crime tão bárbaro, tão cruel, poderíamos tolerar que o feminicida Bruno voltasse à posição de ídolo? Que mensagem mandaríamos à sociedade? Atletas são referências. Contratar para um time de futebol um assassino, um homem que mandou matar a mãe do seu filho, esquartejar, dar o corpo para os cachorros comerem é um desrespeito. É um desrespeito a nós mulheres”, disse a apresentadora. Ela também compartilhou um texto junto com a postagem. Leia na íntegra.

Por que sou contra a contratação de um feminicida no esporte

Eu acredito na recuperação do ser humano. Acredito que a maioria das pessoas merece outras chances depois que comete erros, porque errar é da essência humana. O perdão é um dos sentimentos mais belos que podemos cultivar. Mas perdoar alguém não significa esquecer o que esse alguém fez nem permitir que esse alguém continue em nossa vida. Perdoar e dar uma nova chance não apaga o que foi feito, não se pode fingir que nada aconteceu. Embora juridicamente o cumprimento de uma pena libera o condenado para seguir sua vida normalmente, é socialmente que precisamos pensar no que toleramos ou não. Nem tudo é apenas questão de lei. Há comportamentos legais que são imorais. Um condenado pode e deve ser ressocializado. Deve merecer uma segunda chance. Mas penso que, depois de um crime tão perverso, voltar a ser ídolo, a estar numa posição que lhe confere status de ídolo, é bastante questionável. Penso que o feminicida deve voltar ao trabalho, mas não no futebol, não como ídolo. Defendo sua ressocialização, mas longe de qualquer torcida. E isso não é a lei que vai decidir. É a sociedade. E se ele tivesse estuprado um bebê? O que os “fãs” diriam? Lembro que há pouco mais de dois anos, jogadores foram flagrados num vídeo masturbando uns aos outros no vestiário de um clube gaúcho. Os quatro jogadores foram dispensados. Seus nomes, inclusive, foram poupados para evitar que eles fossem banidos do futebol. E é bom que fique bem claro: eles não cometeram crime algum, não fizeram nada contra a vontade de ninguém! Mas, absurdamente, a homossexualidade ainda é intolerável no futebol. Ser feminicida é aceitável? O que você pensa disso? #NãoAoFeminicídio


Fonte: Correio 24horas